Clima empurra as espécies que pescamos para os Pólos
Clima empurra as espécies que pescamos para os Pólos
13.02.2009
Helena Geraldes
Nos oceanos do planeta, a resposta às condições adversas impostas pelo clima deixará de ser a adaptação. Será a fuga. Águas mais quentes e perturbações nas correntes oceânicas obrigarão à redistribuição a larga escala da maioria das espécies nos oceanos. Estas, incapazes de se adaptarem, avançarão em média 200 quilómetros, até 2050, em direcção aos Pólos, às águas mais frias dos oceanos Árctico e Austral. O novo cenário marinho do futuro não deixará de ficar marcado por invasões e extinções locais.
Perante a perspectiva destas “convulsões” oceânicas, William Cheung, coordenador do primeiro estudo à escala global sobre o impacto das alterações climáticas na biodiversidade marinha, prevê “enormes mudanças” para 1066 espécies de peixes e invertebrados.
Este género de atlas - apresentado quinta-feira na conferência anual da AAAS (American Association for the Advancement of Science), em Chicago, e publicado esta semana na revista “Fish and Fisheries” – foi possível graças a um novo modelo bioclimático informático, baseado em três cenários de alterações climáticas e na forma como estes vão afectar as condições físicas e biológicas adequadas para cada espécie. Através dele, cientistas do projecto Sea Around Us, da Universidade da Colúmbia Britânica, da Universidade de Princeton e da Universidade de East Anglia, estudaram as espécies mais capturadas em todo o mundo, como o bacalhau, o arenque, a garoupa e várias espécies de tubarões e camarões.
“Descobrimos que, em média, os animais podem deslocar-se para os Pólos ao ritmo de 40 quilómetros por década”, disse William Cheung, da Universidade de East Anglia, em Norwich, Reino Unido.
O caso do bacalhau do Atlântico foi utilizado como exemplo. “A distribuição do bacalhau do Atlântico na costa Este dos Estados Unidos pode alterar-se em direcção à costa canadiana em mais de 30 quilómetros por década, resultando numa redução de 50 por cento em algumas populações de bacalhau na área até 2050”, disse Cheung. Algumas populações de arenque no Atlântico podem registar diminuições superiores a 20 por cento.
Invasão dos Pólos
Para todos os três cenários climáticos – concentração de dióxido de carbono na atmosfera em 720 partes por milhão (ppm); 550 ppm e continuação da situação em 2000 – estão previstas a invasão de espécies e extinções locais.
As zonas que serão palco de mais invasões de espécies em busca de melhores condições de vida serão os oceanos Árctico e Austral. No entanto, este movimento expansionista em direcção aos Pólos estará limitado pela disponibilidade de habitats adequados, alertam os cientistas.
Mas se há espécies que vão migrar, há outras que, simplesmente, vão desaparecer devido à perda de habitat. As extinções locais deverão ser mais comuns nos trópicos – quando a temperatura das suas águas aumentar e as estas espécies partirem para zonas mais frias -, nos oceanos Austral e Árctico – cujas espécies especializadas, já adaptadas a baixas temperaturas, não terão para onde fugir num cenário mais quente -, Atlântico Norte, na costa Nordeste do Pacífico e nos mares Mediterrâneo, Vermelho e Golfo Pérsico.
Por pior que este cenário possa parecer, a verdade é que os recursos pesqueiros têm ainda outras ameaças com que se preocupar, como a sobre-exploração pesqueira e a poluição. As alterações climáticas funcionam como um amplificador da dimensão do problema da biodiversidade marinha. Por isso, a equipa de Cheung salienta a “urgência em minimizar as emissões de gases com efeito de estufa (...) e em desenvolver estratégias de conservação marinha”. Além disso, a comunidade internacional precisa de agir “para recuperar a capacidade dos organismos e ecossistemas de se adaptarem às alterações do ambiente”.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1365127